that look…

08/09/07

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Código 46, por Michael Winterbottom, com Samantha Morton (foto) e Tim Robbins.

owned me.

(Ouvindo Subterranean Homesick Blues)

Já faz uns meses que me deparei com a frase de David Levi Strauss sobre o Brasil, que coloquei na descrição do blog, abaixo do título. Desde então não saiu mais da minha cabeça, achei-a tão perfeita e astuta que cheguei a ficar com raiva…tive uma certa inveja, queria eu tê-la feito. Anyway, tal frase foi escrita em um ensaio de Strauss sobre o trabalho fotográfico de Miguel Rio Branco, da agência Magnum, sobre o Brasil. Natural das ilhas Canárias, atualmente morador do Rio de Janeiro, Rio Branco é um artista completo antes de ser fotográfo: dedica-se além da fotografia também ao cinema e à pintura, e credita sua visão distinta à influência conjunta de todas essas artes, principalmente da última. Preocupa-se principalmente em mostrar a situação dos miseráveis das capitais brasileiras, como Rio, Manaus, Salvador. Em entrevista antiga à Folha, muito elucidativa, ele resumiu sua temática, que…:

“…é a das marcas do tempo, com corpos marcados, lugares marcados. O tempo de exposição que deixa a própria marca dentro da imagem, é a própria questão da luz.”

Sendo filho de diplomata, Rio Branco mudava-se constantemente com seus pais, de país em país. Este fato acabou por influenciar decisivamente sua arte: diz nunca ter pertencido a um lugar, o que o fez sentir-se marginalizado e criou uma identificação e preocupação com a situação dos os miseráveis das grandes cidades, também marginalizados, mas em sua própria sociedade.

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LUZIANIA, Brasil — Miguel Rio Branco / Magnum Photos

Dada a frase de Levi Strauss sobre o trabalho de Rio Branco, a cor favorita deste não podia ser outra que o vermelho, como na foto acima.

Ainda que considere o trabalho de Rio Branco muito bonito e a motivação por trás louvável, minha preferência pessoal vai contra esta fotografia dos miseráveis e da dor, temas caros ao fotógrafo, por razões já explicadas em post anterior. Mas cada vez mais percebo que aqueles que vivem em sociedades em que dor, violência, miséria são recorrentes em geral não conseguem distanciar-se disso em seu trabalho. Não que eu não considere os temas válidos, mas pra mim a realidade já mostra tudo o que gostaria de saber, talvez porque eu procure no dia a dia saber qual é esta realidade, porque eu faço parte do 1% que lê jornal e se informa, whatever…o que importa é que procuro, no resto, incluindo artes em geral, uma forma de relaxar…escapar, que seja.

Harry Callahan

02/09/07

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Detroit – 1943

Há uns meses atrás resolvi contribuir para os Médicos Sem Fronteiras. Confesso que inicialmente, ainda que simpatizante de ONGs em geral e admirador deste tipo de trabalho, minha ação foi motivada pelo desejo de um dia conseguir ser aceito nesta organização. Como dizem os locais, iria “amarradão” para qualquer lugar ajudar a quem fosse (ainda que provavelmente, sendo economista, acabaria em uma mesa em Paris realizando o necessário trabalho burocrático). Acho que daria um sentido mais palpável para minha vida e profissão. Bem, naquele momento eles não tinham mais vagas na minha área e a idéia foi momentaneamente esquecida por mim. Nas últimas semanas, porém, chegou um postal agradecendo a minha doação e, caramba, que trabalho de marketing fera os caras têm: tratava-se da foto (em P&B claro…) de uma mãe africana segurando o filho, ambos muito sorridentes e felizes, com um texto atrás agradecendo pela ação. Minha reação foi ficar feliz pacas na hora, seguido por uma certa decepção por cair tão rápido no marketing deles :)…mas no final a primeira reação prevaleceu. Acabou de chegar no correio um boleto pedindo a continuidade das doações e provavelmente manterei as contribuições.

Em termos fotográficos o que explica a efetividade do cartão postal, na minha opinião, é a quebra do padrão foto-tragédia quando se trata de documentar a situação de regiões miseráveis. Diga-me, quando somos apresentados a uma cena feliz de uma família africana? Nunca!! O postal realmente mostrava uma realidade que não chega até nós. O papel do MSF é fazer com que essa imagem torne-se a face real do continente, portanto é uma propaganda convincente dos objetivos da organização. Interessante comparar isso com as fotos tiradas por membros da agência de fotografia VII no Congo, em parceria com a própria MSF: uma amostra pode ser encontrada aqui. Reproduzo abaixo uma das fotos:

Ao olhar-se as fotos da exposição, percebe-se que nenhuma retrata uma situação de felicidade. Talvez o problema seja comigo mesmo, estou realmente de saco cheio de ver somente retratos da desgraça humana. Por isso que admiro muito o trabalho do fotógrafo David Alan Harvey, centrado nos povos latino-americanos. Apesar de retratar povos pobres, suas fotos geralmente procuram o lado bonito, alegre e lúdico destas populações, vale a pena conferir. Abaixo está uma foto tirada por ele em Cuba:

 

Entendo que seja necessário mostrar o sofrimento alheio para alertar sobre os abusos e motivar ações humanitárias no mundo, mas acho que se passa um pouco do limite.

São Paulo

30/12/06

São Paulo

Taken near my place in São Paulo, this photo is very representative of the city, with the sunset turning to gray, the smoke, squared buldings and wires.

Delivery

30/12/06

Delivery

I left my house with this idea in mind: to take a panning from some kind of bicycle, or anything close. I’m pleased with the result, since this is a stronger and more interesting subject than a bike.

Check out: http://www.time.com/time/yip/2006/.